Nas ruas, nos becos ou nas varandas dos
prédios dessa cidade invisível, aquela música me invade e me faz dançar
lembrando-me de cada momento vivido ao seu lado. De quando nossas almas pensam
juntas e dizem em rimas besteiras que voam com o vento e se espalha em risos.
Lembra-me a sua sobrancelha ciumenta, seus belos olhos, suas piadas
sarcásticas, seu cabelo recém-cortado ou suas lágrimas inevitáveis ao se
recordar das suas razões gêmeas. Coloca-me em um mundo azul no qual me permiti
flutuar entre os calores de um cappuccino ou o gelo de uma esquina noturna.
Embala-me e me deixa frágil em seus braços e ao mesmo tempo me torna o homem
mais corajoso do mundo, beirando a loucura dentro de seu corpo.
A música que para por um estante
para dar passagem para a frase "oi moço", que abre as portas de um
sentimento que cansou de ficar trancado. Excita-me e me conforta, me distrai e
me coloca em foco, me faz feliz. Felicidade que se manifesta em meio à
tempestade de mentes dementes, a descobertas de ídolos repetidos e amigos de
verdades absolutas.
É uma música que não acaba, vive em
looping, um ciclo de notas que começa no primeiro “bom dia” no meu espelho. Que
inspira o seu romantismo crescente, aumenta nossas despedidas intermináveis e
nos faz pensar no aquário da nossa casa dos sonhos. Que me faz refletir na
velocidade e intensidade do cruzamento de nossas vidas. Que me oferece a chance
de admirar cada realização sua nos tecidos da vida. Que me torna pai na hora de
seus tropeços e filho quando estou indo para o chão. Que te deixa algemado em
minha mente, me obrigando a compartilhar cada segundo da minha vida com você
com um sorriso no rosto.
A música que foi desculpa para o primeiro "eu te amo" de um
garoto tímido. Que me levanta com os seus acordes e me equaliza na frequência
da estação perfeita de se descobrir. A música que te acompanha no fone
espantando os seus medos ou na minha vitrola espantando a minha solidão. Ela
que começou inconscientemente em uma praça vazia, hoje esta presente
eternamente no futuro de dois bobos apaixonados, que esperam que nunca toque a
última nota.