domingo, 30 de março de 2014

Lembranças perdidas

Recorda de mim?

Brincamos de momento, com os ponteiros do tempo, deitados na grama, despedaçando flores, cortejando o vento, vendendo talento e escultando os corações apaixonados. 
Estávamos livres, nos prendendo em bagunça, beijando o mar, dançando no ar, comendo com a mão, sem praticar as regras da vida. 
Pulava no alto e caia de baixo das suas asas, beijava o seu pescoço com preguiça de chegar nos seus lábios.

Lembra da gente?

Eu estava sempre com frio, com medo, com fome, com raiva, com tudo que você tinha. Me fortalecia com a sua preocupação, me embriagava de ingratidão, falava coisas sem sentidos e você dava risada.
Eu toquei a sua campainha em uma noite de pouca luz, te apresentei a minha dança e você me conduziu. Na doçura de minhas palavras você se iludiu.

Se por caso eu não deixei pistas suficiente, olhe-se no espelho dos meus olhos aflitos. Ache qualquer adjetivo para a minha aparência atual, porém, lembre-se, de que a minha forma não vale tanto quanto o que já fomos um dia. De que as marcas do seu pescoço nunca mais assumiram a mesma cor de outros. Que o meu frio vai continuar para sempre, mesmo que você me queime de suas memorias.

quarta-feira, 26 de março de 2014

Boa noite

Dorme, respira de vagar enquanto acariciou os seus cachos.
Dorme, sonhe com um mundo incrível, onde suas regras são as únicas que presidem.
Dorme, descansa o seu corpo, sua alma, prepare sua mente para o novo amanhã.

Sob a lua que clareia todo o seu quarto imenso, as estrelas que vagueiam pelo céu intenso,
dorme por prazer e não por obrigação. Dorme com alivio e sem preocupação. Deixa que eu vigio, que eu
te protejo, permita que eu use a minha insonia provocada pela sua beleza radiante para lhe proporcionar segurança. Deixa que eu seguro sua mão, que eu te esquento com o meu corpo. Deita no meu peito e ouça o ritmo que você deixou o meu coração.

Feche os olhos e me deixa no escuro do seu quarto grande.
Feche os olhos e me deixa ser o escudo no seu quarto grande.
Feche os olhos e...


domingo, 9 de março de 2014

Cinzas

Com a cabeça meio aberta e os olhos em chamas, minha caneta se põem a compor a valsa da morte. Calculando cada diâmetro do circulo de suas ações, estou prestes é reescrever sua historia. Sem a magia da ética que te protege, sem armadilhas de bom senso que me perseguem, sem remorso, sem escrúpulos, cem rascunhos ao lixo. Uma elaboração sem erros nasce em um dia que falece com o pôr do sol. Fora do clichê cinematográfico e dos impulsos homicidas da improvisação, em uma folha sem linhas surge um roteiro maravilhoso, que não desconsidera a sua astucia, porém, consegui ir além da sua perspicácia. Um confronto letal não divulgado, sem regras e sem volta.

Um motivo? Tenho mil deles, entretanto, a maioria não faz sentido. Tudo é apenas um desabafo de uma alma que cansou de apanhar de sentimentos contidos. Sua sentença é a minha liberdade para uma outra prisão suicida. Diante de uma trincheira, almejo que o seu corpo seja o meu ponto de partida para uma bandeira branca, mesmo que esteja manchada de sangue.

sábado, 1 de março de 2014

Perda

Dos sonhos mais lindos me restaram o sono
Da fé mais confortável me sobrou as dúvidas
Das palavras mais belas recuperei algumas letras
Das lagrimas mais doloridas não me restou nenhuma gota.

O que me foi ensinado foi inútil, pois não foi vivido antes para ver se era o certo. Mudei escolhas, perdi pessoas, para descobrir que o meu rascunho era o meu triunfo. O que fazer quando se perde uma poesia? O que fazer quando se erra uma melodia? O que fazer quando se deita por sobre a vida? Interpretei meu eu ao contrario na peça que me pregaram. Fui traído pelo meu próprio sorriso forçado diante ao espelho, me escondi no reflexo de minha herança, cresci de baixo da minha cama e não percebi que uma hora a madeira não ia aguentar. E tudo foi embora: a madeira, o sorriso, a poesia, as lagrimas, as palavras, a fé, os sonhos e você!