quinta-feira, 30 de outubro de 2014

O barco

Te encontramos no portão, sem lenço e sem chão.
Me desmancho contigo, não sou forte e nem são.
Fazemos de tudo para conter suas lágrimas, cada sorriso conquistado nós move a continuar viver.


Se assim pudéssemos, viveríamos eternamente em um barco que no momento exato atravessa um arco de cores em busca do porto mais próximo. Um barco que Combate-se as tempestade mais furiosas, animais mais medonhos e continua-se com o seu casco intacto.
Um barco resolveria tudo. Mesmo nos dias de chuva, pois as gotas que caíssem, só iriam acentuar a sua beleza e a brisa te deixaria leve, solta sem problemas, sem obrigações, sem-limites.

Mas estamos longe do mar. Só estamos na sua cozinha fazendo mais uma de nossas piadas sem graças para te distrair.
Meia-volta e você lembra de tudo, das decepções, das magoas e das dores. Todos a sua volta fazem um silêncio respeitando o seu momento.
Um ar trágico carrega o ambiente, e todos nos sentimos na obrigação de cravar uma guerra contra todos que possam causar qualquer incomodo para você. Sem-notarmos, sua felicidade brota quase que espontaneamente e uma bandeira branca se faz presente.

Mesmo sem barco, atravessaríamos o oceano para auferir o seu sorriso.

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Sorriso leviano

Bolso, tempo e coração rasgado.
Vida inteira pela metade do limite.
A mulher que me ajuda cai em prantos.
Apunhalei ela pelas costas igual uma rosa que esconde os seus espinhos.
Chora com gosto pelo desgosto da vida.
Eu não choro mais. Não consigo.
Os sentimentos que me levava ao escorrer das minha lágrimas evaporaram com o passar do tempo.


Mais eu ainda sofro. 

Não pra você. 
Só por você.

E pelas bombas da desordem monetaria, pela hipocrisia da sua felicidade, por não conseguir dar uma abraço em quem precisa,
pela prisão da carreira conquistada, pela chance de ser melhor que alguém, pelos orgulhos que posso ferir, pelos segredos que me sufocam,
pelo desprezo inconsciente da pessoa que eu amo e pela redundância de afogar os problemas em palavras em vez de ações.
Ainda o meu rosto esta seco. Afirmo isso com um sorriso leviano.

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Talvez

Esses lençóis estão me incomodando mais que o comum nesta noite.
As vezes é por conta do seu cheiro que os impregnou.
Esse cheiro ominoso que eu me pego todas as noites envolvido, a procura
de um abraço, ou apenas uma companhia para aqueles dias que as cadeiras estão vazias.
Hoje o ambiente parece mais quente que o comum, mesmo com a garoa que cai de encontro a telha quebrada.
Talvez isso aconteça pois ainda sinto o seu calor me esquentando, suas risadas ecoando preenchendo todo o vazio desse quarto e do meu coração.
Não vou conseguir dormir mais uma noite e isso já não importa.
Eu só queria entender a dor da saudade daquilo que ainda não aconteceu.

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Um bailaor

As luzes já me cegam, mas dessa vez sei onde estou.

Tudo ao meu redor é devastado, a lua cheia surge inexplicavelmente sob os meus pés. Tenho acesso a outras culturas, outras vidas, outros amores. Sinto a solidão, porém, enxergo mil olhos me interrogando. Gosta da presença deles. A música começa a elevar-se, uma platéia surge transbordando energia, o cajón se conecta com as batidas do meu coração e finalmente o mundo começa a brincar de roda. Proporciono um terremoto junto com os acordes que desafiam a minha alma. O meu corpo reage por instinto, se contorcendo com o ritmo pulsante que se expande e penetra na áurea dos desavisados. Não há escapatória! Eu não quero escapatória. Por alguns segundos consigo a proeza insana de desligar a minha mente.


As luzes ainda me cegam, mas desta vez eu sei quem eu sou.

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Para não ficar na memória

Não quero que me prenda em um porta retrato qualquer.
O meu antigo desejo de me mostrar feliz através de poses esdrúxulas,
já não me satisfaz. Aquelas fotos gritam comigo me punindo por
força-las a uma prisão de sorrisos eternos em filtros monocromáticos.
O cliché da vida perfeita sem cor.
Quero acontecimentos reais a todo estante, cansei de representações
de cachimbos dentro de superficies plásticas.
Não precisa registrar essas palavras, deixarei elas soltas no ar.